quinta-feira, 17 de março de 2011

Motéis do Rio voltam ao modelo original

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Cerqueira, dono de motéis: o pernoite é mais barato do que uma diária de hotel

Quando foram criados, lá pelos idos dos anos 1920 nos Estados Unidos, os motéis eram, e ainda são, um tipo de hospedaria, geralmente à beira das rodovias, onde as pessoas podiam chegar de carro, descansar por algumas horas e depois seguir viagem. A palavra motel foi formada pela contração de outras duas da língua inglesa: motor e hotel. Mas no Brasil, sempre que se fala em motel, lembra-se logo de quartos cheios de símbolos eróticos, onde as pessoas se encontram para ter relações sexuais. Mas no Rio, os motéis estão adotando o modelo original.

De olho na crescente demanda, principalmente de executivos, seus proprietários estão gastando entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões em reformas para transformar seus apartamentos em quartos confortáveis para hospedar esse novo público. Após a reforma, a ocupação tem aumentado em até 20%, em alguns motéis.

Hoje, a cidade do Rio tem 180 motéis e pelo menos 30 deles já passaram por reformas parciais ou totais, diz Antonio Cerqueira, vice-presidente do Sindicato de Bares e Hotéis do Rio. Ele tem participação em seis estabelecimentos, dos quais cinco já reformados: o Villa Régia, o Bambina, o Shalimar, o Sinless e o antigo Sunshine, na Ilha do Governador, que por ficar próximo ao aeroporto do Galeão e ser muito procurado por executivos em trânsito, foi rebatizado de Ilha Palace Hotel.

Cerqueira diz que os hóspedes descobriram que podem gastar menos nos motéis. "Eles pagam o pernoite de 10 horas, fecham a conta e voltam na noite seguinte para dormir", diz. "Isso dá uma economia de até 40% no gasto final. Nos hotéis tradicionais é necessário pagar a diária completa."

Mesmo se pagar uma diária, o preço também é menor. Um quarto simples, com garagem coletiva, banheiro privativo, e até hidromassagem em um dos motéis de que Cerqueira é sócio na Avenida Niemeyer, custa em R$ 150 a diária. Preço muito abaixo do praticado pelas grandes redes instaladas na Zona Sul e na Barra da Tijuca, onde a diária custa, no mínimo, por R$ 500.

Mas os motéis não estão deixando de lado seu público fiel que quer privacidade e isolamento. As obras ainda mantêm nos andares mais baixos os quartos privativos com direito a garagem exclusiva. "Os clientes de negócios normalmente chegam de táxi, pegam os elevadores e ficam nos andares mais altos. Procuramos mantê-los em ambientes separados".

Cerqueira conta também que as redes estão investindo em treinamento de pessoal para que o funcionário saiba diferenciar os públicos e atendê-los de forma diferente. "Enquanto existem aqueles que não querem ser notados, há clientes cativos que já chamam os funcionários pelo nome", explica.

Mas não é só nesse novo público que os motéis estão de olho. Com cerca de seis mil quartos disponíveis e um faturamento anual de R$ 440 milhões, eles querem ser incluídos no projeto Olímpico e podem ajudar a cidade a suprir parte da demanda exigida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). No acordo firmado entre a Prefeitura do Rio e o COI está a promessa de se criar mais 20 mil unidades até 2016. Para os donos de motéis, pelos menos seis mil já estariam garantidas.

Leo Pinheiro/Valor 17.3.11

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