terça-feira, 19 de abril de 2011

Para TCU, não se fez quase nada para a Copa de 2014

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Ministro Valmir Campelo: "Ainda não é o caso de acender a luz vermelha."
O Tribunal de Contas da União (TCU) traçou, ontem, um quadro preocupante das obras para Copa do Mundo de futebol de 2014. De um total de R$ 1,868 bilhão em financiamento do BNDES já contratados para a construção de estádios, segundo o TCU apenas R$ 6 milhões foram liberados até agora. Nenhuma obra de melhoria e ampliação dos portos de sete cidades-sede da Copa foi iniciada, enquanto que a reforma e ampliação de oito aeroportos estão apenas no papel.

O mais grave, no entanto, é a situação dos projetos de mobilidade urbana, aqueles que facilitarão o deslocamento das pessoas nas cidades-sede da Copa. Dezessete projetos não foram sequer iniciados e o ministro do TCU responsável pelo acompanhamento das obras da Copa, Valmir Campelo, se mostrou preocupado especialmente com o andamento dos projetos em São Paulo.

Somente ontem os governos do Estado e do município anunciaram um acordo pelo qual pretendem investir R$ 478 milhões em obras de mobilidade urbana no bairro de Itaquera, região em que será construído o estádio do Corinthians, que deverá ser utilizado na Copa. Os planos iniciais de transporte urbano de São Paulo foram feitos para a região do Morumbi, mas o estádio do São Paulo, ali localizado, acabou sendo vetado pela Fifa.

Em meio a esse cenário preocupante, o governo federal decidiu incorporar o TCU nas discussões sobre a aprovação de regras 'mais flexíveis' para as obras da Copa e da Olimpíada de 2016, que será realizada no Rio de Janeiro. Ontem, o ministro chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, e o presidente da Infraero, Gustavo do Valle, conversaram com o presidente do TCU, ministro Benjamin Zymler.

Antes do encontro, Zymler explicou que a ideia em discussão com o governo é criar "um regime simplificado e diferenciado para as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada". Segundo ele, as mudança em discussão buscam agilizar as licitações e contratações, com alterações em uma infinidade de procedimentos que hoje atrasam os empreendimentos. Entre as inovações, ele citou a possibilidade de inversão de fase de habilitação e de julgamento, o regime de empreitada integral, a criação de contratos de eficiência e a fase de lances (secretos ou abertos).

As mudanças estão sendo examinadas por um grupo com representantes do governo, do Congresso Nacional e agora do TCU. Depois que esse grupo chegar a um entendimento, as propostas poderão ser incorporadas no texto de alguma medida provisória em tramitação no Congresso Nacional, como informou, na semana passada, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

O ministro Valmir Campelo fez ontem uma apresentação sobre a situação atual das obras da Copa do Mundo para uma plateia formada pelos demais ministros do TCU, por funcionários do Tribunal e por representantes da imprensa. Um quadro apresentado por Campelo mostrou que apenas cinco financiamentos do BNDES para a construção de estádios de futebol, de um total de dez, foram contratados até agora. Os engenheiros do TCU estão sendo utilizados para fazer os projetos executivos das obras dos estádios, pois o BNDES não possui engenheiros suficientes para essa tarefa. Os R$ 6 milhões dos financiamentos liberados até agora foram justamente para realizar estudos de projetos do estádio de Manaus.

As obras de reforma e ampliação dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Curitiba, Cuiabá, Confins (MG), Porto Alegre, Brasília e Recife não foram iniciadas. Mesmo assim, Campelo não concordou com a recente avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de que as obras de alguns desses aeroportos não serão concluídas a tempo da Copa do Mundo. "Poderão ocorrer alguns atrasos e algumas coisas improvisadas", disse Campelo. "Mas acredito que as metas serão cumpridas", acrescentou. "Ainda não é o caso de acender a luz vermelha."

Na sua exposição, Campelo ressaltou que a atuação do TCU tem sido cooperativa e preventiva para evitar problemas. "Nós não queremos ser empecilho." A mensagem da sua exposição Campelo foi a de que se houver atraso nas obras, a culpa não será do TCU, que tenta ajudar e corrigir eventuais problemas antes que eles aconteçam.
Valor 19.4.11

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Piauí prevê incremento de 40% da venda de joias na Copa do Mundo

Localizada a 220 km da capital Teresina, ao norte do Estado do Piauí, a cidade Pedro II envolve, hoje, 35 lojas especializadas na venda de peças da pedra preciosa opala, além da produção anual de 400 quilos de joias na região. Para os pequenos e médios empresários envolvidos junto à associação de joalherias da cidade, a chegada da Copa do Mundo no nordeste vai mudar o cenário econômico local, com perspectiva de crescimento na casa de 40% no ano do evento esportivo.

Por conta disso, e de uma demanda que indica crescimento de no mínimo 10% este ano, as joalherias já começaram a aumentar seu estoque e a contratar funcionários para acompanhar a economia do setor, que hoje movimenta R$ 2,5 milhões por ano. "Quando comecei o trabalho no ramo de joalheira, eu tinha oito funcionários. Hoje somos 18 pessoas na equipe", afirmou Juscelino Souza, dono da Áurea Joalheria, considerada a maior da cidade.

O empresário afirma que o mercado externo do ramo de peças preciosas é importante, tanto que costuma apresentar as suas peças em feiras de diversas regiões nos Estados Unidos, além de já ter participado de alguns eventos por toda a Europa. Sua loja faturou cerca de R$ 500 mil ano passado, e chega a vender em média 80 quilos de joias. "Temos perspectiva positiva para 2011, até em função de esperar que a crise na Europa termine", afirmou o executivo, que prevê passar de 100 quilos de peças produzidas este ano.

"Com esses funcionários e uma capacidade ampliada podemos atingir facilmente essa meta, e depois, para a Copa, precisaremos aumentar a compra opalas, além de contratar mais pessoal, o que não será um problema", declara Souza, que quer aumentar a quantidade de peças a serem exportadas e para isso resolveu que era hora de profissionalizar o trabalho. Hoje, as exportações representam pouco mais de 5% das vendas, sendo os turistas os maiores compradores. "80% de tudo que produzimos são comprados por turistas, brasileiros ou não", continuou. Desses, mais da metade é da classe C emergente.

"Antes, o público que consumia nossas joias era mais o público de classe A e B. Mas hoje, como a classe C está fazendo mais viagens, e entrando nas cidades como turista, podemos dizer que eles também entraram para o grupo da compra de joias", ponderou. As peças para a classe C, de acordo com Souza, são menores, mas igualmente delicadas. "Não precisamos mudar muito as peças para atender a classe emergente: diminuímos o tamanho da pedra preciosa para que o valor não fique tão alto, mas sem perder a graciosidade", diz.

Um dos motivos para essa atenção especial para a classe C também se deve à crise europeia, que segurou a vinda de turistas internacionais para o Piauí. "Quando uma crise começa, seja em casa ou em um país inteiro, as primeiras coisas que se corta são joias e viagens. Sofremos com a crise em 2008 e 2009, mas não paramos de crescer, justamente por nos adaptarmos ao novo perfil de turista, o da classe C", comentou o presidente da Áurea.

Com a loja montada há seis meses, a ex-dona de casa Osmarina Uchoa afirma vir colhendo os frutos de ter negócio próprio. Antes, a empresária fazia pequenos artesanatos em casa, mas agora nota um crescimento grande com a abertura de sua loja. "Comparando com meu lucro de seis meses atrás, posso dizer que crescemos mais de 200%", afirmou Uchoa, que preferiu não revelar números de faturamento, mas já fez previsão para 2011: "Queremos fechar o primeiro ano da loja com um crescimento de pelo menos 300% comparado com o que vendíamos apenas em casa", previu.

Proprietário da rede Ateliê da Prata, Antônio Mário de Oliveira Lima está com uma de suas duas unidades da joalheria em reforma para ampliação. "Estamos nos preparando para esse período de crescimento de turistas - o que virá em decorrência da Copa de 2014 - que deverá ser alavancado pelas várias obras federais de infraestrutura, que nos ajudarão a vender ainda mais peças", espera o empresário.

Com relação a novos nichos de mercado, os três empresários concordam: é preciso investir mais em enviar as peças a outros estados. "Mais do que vender para paulistas, cariocas e sulistas, nós pretendemos levar nossas peças até eles, na sua cidade natal", afirmou Souza. Outra dica é aproveitar as feiras de joias e bijuterias para levar as peças aos grandes centros. "Participei de feiras em Recife (PE), São Paulo e Brasília (DF). Mais do que fazer negócios na hora, valem os contatos e cartões que pegamos e geram encomendas e vendas futuras", completou Lima.

Valores

Cotada por quilate, o preço da opala, mais tradicional na região em função das minas de Pedro II, está valorizada no mercado. Conforme a qualidade da pedra, o grama varia de R$ 20 a R$ 300. "Nas lojas, para o consumidor final temos peças de R$ 30 a R$ 30 mil, já que depende da qualidade de peça encontrada", diz Souza, que já foi presidente do Sindicato do setor na cidade e estima que a chegada da Copa do Mundo valorizará também os preços. "Estaremos mais preparados para receber os turistas nas cidades do Piauí; até lá teremos novas tecnologias e os preços acompanharão", argumentou.

O mercado de joias também ganha destaque no calendário de eventos do maior centro financeiro do País, tanto que São Paulo vai receber, entre 26 e 27 de abril, no Centro de Convenções Frei Caneca, a segunda edição deste ano da feira de Bijoias SP, evento este que deverá reunir cerca de 200 expositores do segmento. A ideia deste encontro de negócios é inclusive aproveitar a comemoração do Dia das Mães e do Dia dos Namorados para apresentar tendências, enquanto o comércio de produtos do tipo é impulsionado pelas datas sazonais. A feira reúne lançamentos de bijuterias, acessórios, prata, aço e folheados. "Acreditamos no sucesso da edição do Dia das Mães, pois bijuterias e acessórios são opção de presente que combina com o estilo de cada mulher e expressa o sentimento de quem escolheu", crê a diretora da Bijoias, Vera Masi. "Os lojistas estão otimistas com o desempenho do varejo: este é o momento ideal para abastecer as lojas."
DCI 18.4.11

sábado, 2 de abril de 2011

Micro e pequenas têm filão para a Copa 2014

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Apesar de estarem fora dos investimentos mais pesados em infraestrutura para a organização da Copa do Mundo de 2014, as pequenas e médias empresas brasileiras encontraram, por outro lado, uma maneira de abocanhar parte do que será gerado em razão do evento mundial: o Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) anunciou que irá disponibilizar nos próximos três anos R$ 79,3 milhões aos micro e pequenos empresários (MPE), para programas de capacitação, consultoria e inovação.

O dinheiro buscará oferecer 448 oportunidades de negócios a pequenas empresas nas 12 cidades-sede da Copa, e o presidente nacional do Sebrae, Luiz Barreto, divulgou ontem, no Rio de Janeiro, o mapeamento elaborado a pedido da entidade pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com indicação de um programa referente a quatro setores da economia que deverão começar a analisar atuações na esfera dos bastidores da realização do evento mundial, com empresas de construção civil, tecnologia da informação, turismo e serviços de alimentação.

Os quatro setores apresentados deverão receber de modo global investimentos até a realização do evento de cerca de R$ 33 bilhões e devem movimentar cerca de R$ 150 bilhões. "Desse total cerca de 20% serão oriundos das MPEs", disse Barreto. Ele argumentou que a ideia é, em maio, divulgar as ações para o comércio varejista, serviços em geral, vestuário, móveis e agronegócios.

Por outro lado, é perceptível como há muito que ser feito para que o País corresponda às expectativas em termos de infraestrutura. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), defendeu ontem que os aeroportos sejam concedidos à administração da iniciativa privada para minimizar os gargalos do setor. O administrador também garantiu que o governo do município não vai lançar edital de licitação emergencial para as obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, e que todas as obras previstas que visam a ambas as competições deverão ter início até o final deste ano. Paes admitiu, ainda, que o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, "é uma rodoviária de quinta, malcuidada", desabafou.
DCI 30.3.11